sexta-feira, 7 de maio de 2010

Feliz Dia das Mães!

Para adormecer, para acordar – meu texto para o dia das mães Autor: Alessandro Martins

Existem 417 maneiras de fazer alguém adormecer. Uma delas é conhecida como cafuné. Todas as mães, antes de se tornarem mães, fazem um curso de cafuné na escola de cafuné. O cafuné é a mãe esculpindo o sono do filho.
A minha tem um jeito especial de fazê-lo. Parece uma assinatura que busco repetir nas cabeças alheias. Começa amplo, como se fosse uma conversa com os cabelos, a dialogar com cada um. E, a cada um, diz coisas importantes. Desliza esse discurso suavemente para os fios. Amplamente, como a reconhecer o território que já conhecem, sem embaraço nenhum, os dedos misturam-se à seda.

Pois para a mãe os cabelos do filho sempre são de seda. Ainda que ele, já crescido e calvo, nem tenha mais cabelos. Depois de percorrer toda a cabeça, encontram um ponto, próximo às raízes e ali, nessa área tão pequena, decidem ficar. Então, com muito cuidados, as unhas inventam uma coceirinha onde coceirinha não havia e em um milímetro quadrado escavam um pequeno buraco e jogam uma sementinha de sono.
Pelo mesmo lugar, entram os sonhos bons que povoam as noites.
O cafuné só acaba quando todos os sonhos já entraram e nenhum ficou pra fora. Mas aí eu já tinha adormecido. Nunca vi um cafuné terminar. Existem 219 maneiras de fazer alguém despertar. As mães conhecem todas. E elas também sabem que nos dias mais frios do ano é muito difícil acordar para ir para a escola. Lembro de, certa manhã, minha mãe a entrar suavemente no quarto. A porta se abriu e deixou uma faixa de luz e o cheiro de café que vinha da cozinha penetrarem na escuridão aquecida. Com passos suaves, como se não quisesse me acordar, ela se aproximou.

Lentamente, deu corda no despertador. Deixou-o ao lado da cabeceira. Ainda de olhos fechados, pude ouvi-la se afastando enquanto eu aproveitava os minutos de sono que ainda tinha.
Mas antes que ela se afastasse, pude ouvir. Não o despertador. Mas as notas da caixinha de música que ela acabara de deixar para acordar-me tão suavemente quanto ela, com o cafuné, me fizera dormir. Vesti-me, tomei o café e fui para a escola. Cumpri o dia como costumo cumpri-lo, até hoje. Mas desde então não sou mais o mesmo. Carrego sempre um cafuné nos cabelos e uma caixa de música nos ouvidos. Presentes de minha mãe que levo para a vida.

PS – A mãe desta crônica é uma mistura de minha mãe (a dos cafunés) e a mãe da Júlia (a da caixa de música), embora a minha também tivesse uma caixa de música e a mãe de Júlia também tivesse um cafuné especial.
Texto extraído do blog: http://www.cracatoa.com.br/para-adormecer-para-acordar-meu-texto-para-o-dia-das-maes/

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